terça-feira, 20 de outubro de 2009

domingo, 2 de agosto de 2009

TATÁ DANÇA SIMÕES



O primeiro trabalho (em processo, diga-se de passagem) do Tatá – Núcleo de Dança-Teatro estreou na sexta. Tatá Dança Simões pretende ser uma montagem cênica baseada na obra de Simões Lopes Neto. Foi surpreendente (e muito importante) pra gente o público presente. Também é minha estréia como diretora e acho que só me dei conta disso, de fato, depois que tudo passou. Peguei o gosto!!! Com essa apresentação o curso de Licenciatura em Dança da UFPEL também começa a mostrar a sua cara. Uma das caras. Logo logo vão começar a aparecer os outros trabalhos


O Núcleo é um projeto de extensão, vinculado ao curso de Licenciatura em Dança, do IAD -UFPEL, o qual completa um ano este mês. O Tatá Núcleo de Dança-Teatro faz sua 1ª apresentação e terá continuidade no decorrer do próximo semestre. A comunidade está convidada desde já! O núcleo integra artistas do curso de Dança-Teatro, do curso de Teatro e da comunidade.


Coreografia e Direção Geral: Maria Falkembach.
Elenco: Alexandra Latuada, Denise Bohn, Gessi Könzgen, Horácio Martins, Jaciara Jorge, Maicon Barbosa, Paulinho Borges, Roberta Rangel, Taís Prestes, Tales Ferreira, Tatiana Duarte, Vivian Alt.
Vídeos: Chico Machado.
Trilha Sonora: Leandro Maia


Data: 31 de julho, sexta-feira
Horário: 20 hs
Local: Sala 1 do Curso de Licenciatura em Dança (terceiro andar do Clube Caixeiral)

Entrada franca

terça-feira, 14 de abril de 2009

Espaço Público

Exercício de vídeo com câmera fotográfica. O teatro e a rua.

Imagens capturadas no ensaio e apresentação da Farra de Teatro, em Porto Alegre - RS (em 2007). Câmera, direção e edição: Têmis Nicolaidis - Captura de áudio: Gustavo Türck - Músicas: Primavera Porteña (de Astor Piazzola, por Yo Yo Man), Tom Zé (não achei o nome da música, to buscando) e Carne Negre (de Seu Jorge, Marcelo Yuca E Wilson Capellette, por Elza Soares). - todas as músicas do espetáculo.

Coletivo Catarse (www.coletivocatarse.com.br).

domingo, 29 de março de 2009

Diálogos: marcas, dúvidas e urgências do tempo presente

Daggi Dornelles
coreógrafa, bailarina,professora
(Texto produzido no II Diálogos da Dança, promovido pelo SESC-Porto Alegre)
Antes de escrever, fui revisar as palavras de Márcia Strazzacappa, com a simples finalidade de não repetir abordagens; apenas reforçá-las, quando necessário.

Começamos, ambas, com a questão dos diálogos, especificamente, estes "da Dança", promovidos pelo SESC. Penso que a maior força da iniciativa é o fato de que ela se desenvolve sob a tutela de uma instituição que pode propor novos formatos, apostando em modelos de risco, e abrindo o espaço para que os mesmos sejam aprimorados por uma avaliação e reconstrução gradativa, privilegiando a questão da arte e suas possíveis inserções na sociedade contemporânea.

Neste sentido, diria que foi dado o primeiro passo, ainda um pouco acanhado, que merece uma cuidadosa avaliação, para que cresça e supra – a exemplo do que ocorre em São Paulo – ações essenciais para as quais a administração pública ainda não encontrou o espaço devido, inclusive, por falta de "diálogos" efetivos, que promovam um real conhecimento mútuo e o amadurecimento da teia que pode construir o produtivo e, quem sabe, surpreendente link entre as responsabilidades administrativas e o papel da arte no amplo quadro da sociedade e suas culturas.
O programa que me coube avaliar e comentar, além da diversidade de estilos, já presente no primeiro final de semana de apresentações, foi marcado pela grande diferença de formato, proposta e modo de comunicação: na sexta-feira, dia 07, fui até a esquina democrática, observar o resultado do workshop "posso roubar seu Movimento?", conduzido por Maria Falkenbach; no sábado, dia 08, fui ao Teatro do SESC Centro, para assistir “Pátria Minha”, da Cia Art&Manhas, sediada na cidade de Rio Grande, com coreografias de Doris Ramis, Heloisa Bertoli e Vanessa Picaluga.
Tentarei, inicialmente, separar os dois momentos, a exemplo da forma como os vivenciei. Mas, antes, faz-se necessário expor brevemente a ótica sob a qual “espio” as cenas.
Não sou crítico de arte, mas me considero bastante exigente e com senso crítico apurado no que tange aos inúmeros questionamentos que podem permear as ações humanas, incluindo àquelas de arte, e incluindo-me entre os questionáveis. Não tenho vínculos acadêmicos e, nesta condição, afasto-me também dos modelos adotados pelas instituições de ensino, em suas análises de arte e tentativas de classificação. O lugar de onde observo é a condição do artista – pleno de instabilidades e sujeito a constantes intempéries – que, por momentos, se estabiliza e logo sucumbe em incertezas, alegrias e danos, coletados em 30 anos de ininterrupta atividade de produção artística e em peregrinações por lugares e culturas diversas, que me presentearam com a experiência viva da diversidade; esta, atingindo-me em carne, diluindo minha nacionalidade, fazendo de mim um corpo mundano e desprendido que, hoje, observa o quadro do mundo e da nação com uma carga menor de sentimentalismo, ou comprometimento para com estes ou aqueles. Então, é desta geografia talhada em arte, caminhos do mundo e desidentidade, que emana meu ponto de vista sobre ambos os eventos. Tentarei dividi-lo, chamando a atenção para o fato de que a tarefa é árdua e tudo nela é relativo. O que temos são oscilações, produzidas por experiências diversificadas que, ao fluírem em generoso e honesto intercâmbio, nos oferecem algumas chances de real crescimento que, este sim, processado por cada indivíduo, sem receios e despido de ilusões, pode refinar o quadro geral de nossas culturas, de forma que nele caiba a dignidade do fazer de nossas artes. E, aqui, enfim, encontro-me ante um comprometimento de vida, para bem além das culturas e independente das tantas nacionalidades.
No longo trajeto, percorrido de metrô entre São Leopoldo e o centro de Porto Alegre, algumas vezes, assaltava-me a curiosidade com relação ao momento que viria a observar. Eu mesma, com uma ampla vivência em ações de arte para o meio urbano, tinha certo receio de presenciar algo que pudesse significar uma imposição ao ambiente, ao seu rítmo e cenário característicos.

Esperei algum tempo na Esquina Democrática. Tive receio de ter perdido a cena, ou estar enganada sobre o local, até o momento em que uma das pessoas da multidão chamou minha atenção para um gesto diferenciado. Pouco depois, identifiquei Maria Falkenbach e Diana Manenti (do SESC): sim, ali chegavam os corpos a roubar o movimento.

O grupo instalou-se de forma sutil, a despeito do gestual preciso e diferenciado: nada que pudesse agredir, exceto àqueles que já tem a agressão “na veia”, como fato consumado, em relação a tudo o que igual não seja.

Permaneceram, ali, por um tempo bem mais longo do que se esperava, sem produzir desgaste ou sensação de excesso. Para mim, observador, um momento raro de contemplação da cena humana e suas nuances: o moço que “adere” ao movimento e o reproduz por longo tempo; as meninas com riso nervoso de desentendidas a planejar a fuga – indecisa e lenta – para longe “daqueles loucos”; o rapaz que gesticula esclarecimentos para o amigo e que me surpreende, tanto quanto a si mesmo, com um gesto similar ao do grupo. Por instantes, fiquei sem saber quem era quem; sincronicidades, momentos comuns dos corpos, semelhanças que geram enlaces e diluem o território de atuação, num breve instante de comunhão. Um gentil automóvel que desvia sua rota, e um outro, nem tanto, que insiste em atropelar o ato.

Com o correr do tempo, a ação do artista parece desdobrar-se em ilimitada cena comum, onde aquilo que somos, em diversidade de postura e sensibilidade, passa a integrar a performance e entrelaçar as cenas.

Sem qualquer desmerecimento ao palco, precisamos, em via paralela, refletir sobre a pertinência e urgência destas “artes que vão ao mundo” e seus significados em uma sociedade pontuada por preconceitos, bombardeios midiáticos e racismos de toda ordem. Aqui, o simples e delicado “estar no mundo” é já um manifesto pró-diversidade, sensibilidade e desformatação de nossas radicais idéias de arte e comportamento.

No dia seguinte, fui ao teatro, para viver uma experiência completamente diversa.

Desconhecia a Cia. Art&Manhas que, segundo as poucas informações que pude coletar, é o grupo original de uma escola que, atualmente, tenta dar seus primeiros passos como formação independente de bailarinos: uma transição complexa, com todas as dificuldades inerentes ao amadurecimento, fato que fica evidente na apresentação do grupo.

Se, sob um aspecto, é gratificante a qualidade de movimento de grande parte dos integrantes, sob outro, evidencia-se a fragilidade da composição como um todo, no momento em que é proposto um tema, que parece ficar restrito à função de álibi para que o movimento se efetive, e sem abordagens de maior significado, a exemplo do texto – também confuso – incluído no release.

As inúmeras realidades brasileiras, os tantos contrastes do país, ainda que apenas em pontos de contato entre o corpo em movimento e o universo cultural brasileiro, como esclarece a apresentação do trabalho, é tópico de amplitude assustadora. Diante dele, se desejarmos ser conseqüentes, ou abrimos os permeáveis portais da inspiração e ousamos em todos os sentidos, ou buscamos minúcias, num árduo processo de estudo e elaboração. Ali, o movimento parece não ter feito sua escolha, deixando o Brasil e sua memória à cargo da trilha sonora, e ausente nas possibilidades coreográficas ou dramatúrgicas. Devo ter causado desgosto ao dizer que abri as portas da imaginação e permiti que os movimentos seguissem ao som de Bach, New Age, ou silêncio, como forma de por à prova minha impressão de ausência de Brasil no movimento, exceção feita ao breve solo, onde uma bailarina traz à cena pinceladas leves da ginga nacional.

Talvez, tenhamos que retornar ao histórico de transição do grupo, este momento delicado que já mencionei anteriormente, um “turning point” entre a situação anterior de escola e o desejo de profissionalização. É provável que uma análise mais profunda desta situação forneça dados relevantes para o alicerce futuro. As escolas, ou seus grupos representantes – por “n” motivos relacionados à situação geral da dança no país, e que não cabe, aqui, mencionar, ou discutir – vivem o lugar comum de expor seus trabalhos nos inúmeros festivais que se realizam, ao longo do ano, e de Norte a Sul. Não raro, (felizmente, esta realidade dá alguns sinais de desgaste e necessidade de reavaliação) estes encontros estimulam um modelo focalizado em lucros – aqui, simbolizados por troféus, medalhas, classificações diversas e prêmios em dinheiro – que muito mais aborta o criativo e suas possibilidades do que o estimula, como seria de direito e de desejo de uma consequente iniciação nos caminhos da criação artística.

Na arte, como na economia, e em todas as ordens possíveis deste momento do mundo, estamos MARCADOS, irreversivelmente, pelas fartas cicatrizes herdadas de uma cultura que nos diz que é preciso ganhar. Ganhamos o quê? Estamos, mais do que nunca, viciados e trancafiados em modelos insustentáveis e inflexíveis.

A pergunta, feita durante o “diálogo”, a me pedir ajuda para conquistar o público, ecoa e prolifera em dúvidas e mais dúvidas. Não tenho receitas ou soluções. Estamos todos no ápice da incerteza. Não posso compor uma obra que deseje de arte pensando em conquistar público: seria uma traição à arte e ao público. Estas coisas acontecem, e inúmeros sucessos de público acontecem “a posteriori”, antecedidos por rejeições radicais. Creio, sim, que precisamos ter um afeto para com o mundo, paralelo à uma coragem gigantesca de nos expormos ao ridículo, ao fracasso, à resistência e ao risco de criar. Não só a dança, mas todas as coisas por nós feitas, andam com urgência de adeptos da criatividade e do risco, que tanto mais preciosos serão quando seus riscos significarem ganhos amplos, encantos compartilhados, lucros reaproveitáveis na ousadia do sonho de espaços, tempos, e riquezas compartilhadas.

Dialogar é preciso, em corpo inteiro e escancarado à ilimitada diversidade de referências, informações, ignorâncias, carências e mais tanto daquilo que nos constitui como raça tão adepta dos prós e arredia aos contras que sobre o “si mesmo” se abatem. O certo e o errado andam doentes, a auto-estima tem urgências de fazer-se outra estima, onde o outro é foco e pode, subitamente, confundir-se entre ele e eu. Conhecer, dialogar, abrir caminhos de comunicação, investigar sem esperar ganhar e como diria o velho Einstein, imaginar, que a imaginação é mais preciosa que o conhecimento, pois que abre portas e possibilidades.

Em meio às tantas burocracias, velharias cansadas de um sistema pouco criativo e desconfiado, iniciativas como esta, do SESC, merecem ser levadas a sério e à frente, revistas com cuidado e boa vontade, para que tenhamos muitos campos de diálogos possíveis, sonháveis e, naturalmente, realizáveis.

O assunto tornou-se largo, entornou para fora do privilegiado círculo da dança e seus adeptos. Melhor assim, mais chances nos restam de refletirmos sobre as possibilidades de termos nossa arte entre os vitais entornos que, por alguma fresta, venham a arejar os tantos sufocos de um tempo presente, com urgências já quase irremediáveis de algum movimento vital, produzido pela renovação de todo o ar.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Discurso do teatrólogo Augusto Boal, diretor artístico do Centro de Teatro do Oprimido, lido no dia 31 de janeiro durante o Fórum Social Mundial 2009

A mídia costuma publicar só o que é espetacular, sensacional, mesmo que tenha que esconder a verdade. Hoje, fala-se mais da cor da pele de Barrack Obama do que do seu projeto político, como ontem falou-se mais dos seios da Carla Bruni do que das idéias direitistas do seu marido Sarkosy. A mídia tem dono, e reflete as opiniões do seu proprietário: o Fórum Social Mundial não tem dono, e deve refletir as nossas. Foro, Fórum, significa etimologicamente a praça pública, onde se pode discutir livremente. Este nosso Foro é mundial e deve, portanto, discutir os assuntos do mundo. Temos que saudar o fim da era Bush e seus parceiros, mas ficar atentos à nova era que começa. Aplaudir os primeiros atos de Barrack Obama, mas analisá-los com cuidado. Aplaudir sua decisão de fechar Guantânamo, mas lembrar que isso não basta: é necessário restituir Guantânamo ao seu legítimo dono, que é o povo cubano. Aplaudir a ordem de acabar com a tortura, mas lamentar que os torturadores não sejam punidos por esse crime de lesa-humanidade e continuem nos seus postos de comando. Aplaudir o desejo do novo presidente em dialogar com todos os países, mas explicar que não queremos, como ele promete ou ameaça, não queremos ver o seu país liderando o mundo - essa tarefa não compete nem aos Estados Unidos nem ao Paraguai, mas sim à Organização das Nações Unidas que para isso foi criada e tantas vezes tem sido desrespeitada pelo país de Barrack Obama. O Fórum é social, e temos que falar do genocídio dos palestinos. Temos que separar, de um lado, o cruel governo de Israel e, de outro, as centenas de milhares de judeus que com ele não concordam. Não devemos cometer a injustiça que se fez com os alemães, pensando que todos fossem nazistas, quando muitos morreram lutando contra Hitler e seus asseclas. Milhares de judeus, dentro e fora de Israel, condenam e se envergonham do que fez e faz o seu governo, que representa tão somente aqueles que o elegeram, mas não o judaismo. Dentro de Israel existem organizações como a dos Combatentes Pela Paz, de Chen Allon, que condenam a invasão e denunciam seus crimes. Tenho orgulho em dizer que, para isso, usam o Teatro do Oprimido entre outras formas de combate. No Oriente Médio já se inverteu a distribuição de papéis: se, ontem, Israel foi o pequenino David, hoje é o gigante Golias, filisteu. O novo Golias, apoiado pelos Estados Unidos, em 22 dias matou mais de 300 crianças e centenas mulheres e homens, civis ou combatentes. Eu chorei vendo a fotografia de um menino, um pequenino David palestino, jogando pedras contra um tanque de guerra. Se a lenda de David e Golias, ontem, foi apenas lenda, a história de Golias e David, hoje, é triste realidade: os 1.300 mortos ainda estão sendo retirados dos escombros, sem as solenes pompas fúnebres dos 13 soldados israelis. O Fórum e o mundo não podem esquecer esse crime antes mesmo que sejam enterradas suas vítimas. Nosso Fórum é pluralista, e deve se manifestar contra o colonialismo italiano que ofende a nossa soberania, que tenta interferir nas decisões da nossa Justiça, como está sendo o caso da concessão de asilo a Cesare Battisti. Existe uma lei brasileira que proibe a extradição de pessoas condenadas em seus países à pena de morte ou à prisão perpétua. É este o caso, é esta a lei! O ministro Tarso Genro apenas cumpriu a lei - a lei brasileira. O presidente Lula foi claro explicando aos italianos as sólidas bases da nossa decisão, mas parece que eles não entenderam, nem disso são capazes. Por quê? A Itália, que foi o berço do fascismo e deveria ser também a sua sepultura, mostra agora que a ideologia colonialista ainda está viva e pretende anular decisões soberanas do Brasil, invadindo o nosso Judiciário e querendo nos ensinar a diplomacia da obediência e da submissão. Temos que repudiar essa ofensa e libertar o prisioneiro! Nosso Fórum é social, e a economia também. A maioria dos países que estão em crise, ou dela se aproximam, sempre disseram não ter dinheiro para melhorar a Educação, a Saúde, a Previdência Social. De repente, para socorrer seguradoras, bancos e montadoras, esses governos descobriram que tinham bilhões e trilhões de dólares, euros, iens e libras. Nosso Fórum tem a obrigação moral de interrogar os senhores da Davos: de onde veio esse dinheiro? Quem os escondia? Quanto sobrou? Onde estão? O nosso Fórum Social também é brasileiro e é camponês: devemos saudar o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, MST, que é o mais democrático e bem organizado movimento de massas que o Brasil já teve, e que completa agora 25 de lutas pela terra, luta que continua. O Fórum Social Mundial não é daqueles que dizem Hay Gobierno? Soy Contra, e porque assim não é, deve se alegrar em receber tantos presidentes de tantas Repúblicas sulamericanas juntos neste evento: Evo, Correa, Kirchner, Chavez, Lugo e Lula. Nunca se viu fraternidade igual. Queremos agora ver os resultados concretos dessa irmandade. Devemos, muito cordialmente, lembrar aos nossos presidentes que a Política não é a arte de fazer o que é possível fazer, mas sim a arte de tornar possível o que é necessário fazer! Caminhar não é fácil! As sociedades se movem pelo confronto de forças, não pelo bom senso e justiça. Temos que avançar e, a cada avanço, avançar mais, na tentativa de humanizar a Humanidade. Não existe porto seguro neste mundo, porque todos os portos estão em alto mar e o nosso navio tem leme, não tem âncoras. Navegar é preciso, e viver ainda mais preciso é, porque navegar é viver, viver é navegar! Eu sou homem de teatro e não posso deixar de falar de Arte e Cultura quando falo de Política, porque a Política é uma Arte que a Cultura produz. Temo que, mesmo entre nós, muita gente ainda pense em arte como adorno, e nós dizemos: não é! A Palavra não é absoluta, Som não é ruído, e as Imagens falam. São esses os três caminhos reais da Estética para o entendimento: a palavra, o som e a imagem. São também os canais de dominação pois estão os três nas mãos dos opressores, não dos oprimidos: a Palavra dos jornais, o Som das rádios, as Imagens da TV e do cinema estadunidense, dominam nossos meios de comunicação e invadem nossos cérebros com seu pensamente único, seus projetos imperiais e suas mercadorias. Acabou-se o tempo da inocência... o tempo da contemplação já não é mais. Temos que agir! Palavra, imagem e som, que hoje são canais de opressão, devem ser conquistados pelos oprimidos como formas de libertação. Não basta consumir Cultura: é necessário produzi-la. Não basta gozar arte: necessário é ser artista! Não basta produzir idéias: necessário é transformá-las em atos sociais, concretos e continuados. A Estética é um instrumento de libertação. Eu felicito o nosso Ministério da Cultura pela criação de mais de mil Pontos de Cultura no Brasil inteiro, onde o povo tem acesso não só à Cultura alheia, mas aos meios de produzir sua própria Cultura sem servilismos, sua Arte sem modismos, porque entendemos que Arte e Cultura são formas de combate tão importantes como a ocupação de terras improdutivas e a organização política solidária. Sonho com o dia em que no Brasil inteiro, e no inteiro mundo, haverá em cada cidade, em cada povoado ou vilarejo, um Ponto de Cultura onde a cidadania possa criar e se expressar pela arte, afim de compreender melhor a realidade que deve transformar. Nesse dia, finalmente, terá nascido a Democracia que, hoje, só existe em Fóruns como este! Ser cidadão, meus companheiros, não é viver em sociedade: é transformar a sociedade em que se vive! Com a cabeça nas alturas, os pés no chão, e mãos à obra! Muito obrigado.
Augusto Boal

POSSO ROUBAR SEU MOVIMENTO? Fotos do dia 7/11/08, na Esquina Democrática - Porto Alegre

Fotos de RodrigoMigliorin















POSSO ROUBAR SEU MOVIMENTO? Fotos do dia 7/11/08, na Esquina Democrática - Porto Alegre

Fotos de Rodrigo Migliorin