terça-feira, 15 de abril de 2008

Sobre o processo de criação e eu uma


Tudo começou com Adélia Prado. Talvez tudo tenha começado com o meu medo de não saber dançar. Mesmo envergonhado, esse corpo procurou e encontrou Adélia. Que me deu coragem, e ainda dá.
Na procura de compor como Gertrude Stein descobri um nome para o que fazia: transcriação. Uma reinvenção uma recomposição uma rearticulação no corpo de uma que queria ser uma daquela escrita que outra uma buscava para ser uma.
Agora o desafio de destecer Joyce e tecer corpos num espaço-tempo cênico. Esse tecido está cheio de teoria teatral corporal o escambal. Mas nesse momento só lembro das noites paralelas à noite de Molly, meu corpo noite-vigília vivendo os movimentos desta uma. Neste agora bem aqui só penso no eu que esse processo produziu. No confronto constante com o masculino de Joyce e do diretor, na busca do meu feminino.
Penélope Bloom: Reafirmação de meu corpo. Corpo Delícia. Constatação do meu poder. Mulher-vida-possibilidade-fertilidade. Afirmação desse modo complexo feminino de ser. Sim à não-razão. Molly transborda mulher. Possibilidade de reivindicar meu masculino femininamente. Duro e macio ao mesmo tempo. Uma mistura de ameixa e maçã.
O recomeçar a tecer é retomar, todos os dias, os pequenos fatos, as pequenas (rel)ações, laços de afecto, infecções, que nos fizeram. E destecer é desconstruir, desfiar-se, desafiar-se para se reinventar. A busca do corpo que se faz e se re-faz, que se desmancha no outro para manchar-se em si mesma.
Recomeçar. Reapaixonar-se. Remontar o tesão pelo existir. Sempre sempre sempre.
Verdade ou mentira, meu corpo vive e enche o dia-a-dia e toda a minha vida.

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