Odisséia feminina
Diretor costarriquenho encena na Capital o último capítulo do "Ulisses", de Joyce
Ler o romance Ulisses é uma verdadeira odisséia. Não é só um jogo de palavras: James Joyce (1882 - 1941) escreveu um dos romances mais importantes do século 20 variando sintaxes, idiomas e pontos de vista de acordo com o que o fluxo de consciência e emoção exigiam. Imagine encenar Ulisses ou uma parte dele que seja? O diretor costarriquenho Gerardo Bejarano topou a empreitada, que está em cartaz no Depósito de Teatro até 28 de abril.
Para ser exato, a peça Penélope Bloom encena apenas o último capítulo de Ulisses, um longo monólogo da personagem Molly Bloom, que se estende por oito frases, nenhuma vírgula e um único ponto. Bejarano assume a multiplicidade proposta por Joyce e coloca em cena duas atrizes - a brasileira Maria Falkembach e a costarriquenha Vicky Montero. Elas dividem a cena por todos os 75 minutos de Penélope Bloom, repartindo falas em português e espanhol. Seus estilos de interpretação são diferentes e complementares - Maria privilegiando o corpo, Vicky se detendo na construção mais tradicional de uma personagem.
- Tudo para alimentar o cubo - resume Bejarano, que se divide entre seu país e o Brasil há quase 20 anos. - Os conflitos inevitáveis de estilo que ocorrem em cena são usados para multiplicar os sentidos de Penélope Bloom.
O espetáculo, inclusive a trilha sonora do gaúcho Leandro Maia, foram criados um pouco no Brasil, um pouco na Costa Rica. Como Joyce pregava, valeu especialmente a intuição. Vicky explica como descobriu sua linha de interpretação:
- Estava em um ônibus na Costa Rica, e uma mulher falou por mais de 90 minutos sem pausa. Vibrei: ali estava a minha Molly.
Maria, que conheceu Bejarano enquanto fazia mestrado na Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), em 2005, aponta ainda mais um fator de multiplicação. Segundo ela, o monólogo de uma mulher, vivida por duas mulheres dirigidas por um homem, tem tudo a ver (e ouvir) com a obra de Joyce:
- As contradições de Molly estão em cena até de maneira física.
Bejarano insiste na fidelidade a Joyce:
- Ele enxergava o extraordinário na conduta humana mais simples. Penélope Bloom é assim, um olhar extraordinário.
Penélope Bloom
De quinta a segunda, às 20h. Duração: 75 minutos.
Depósito de Teatro (Câncio Gomes, 218, fone 51 3061-5251). Lotação: 70 lugares.
A peça: Gerardo Bejarano dirige uma adaptação do último capítulo do romance Ulisses, escrito por James Joyce.
Ingressos: R$ 15 e R$ 10 (Clube do Assinante, estudantes, maiores de 60 anos e classe artística). À venda somente na bilheteria do teatro.
Preste atenção - A trilha composta por Leandro Maia usa piano, fagotes e percussão para interferir na peça.
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